terça-feira, janeiro 24, 2006
Essas são as minhas menininhas, são as quatro baianinhas que eu, um dia, descobri: QUARTETO EM CY...
1964. Esse foi o ano em que a Música Popular Brasileira abriu alas para o furacão de vozes chamado Quarteto em Cy. Mas o comecinho de tudo foi em 1962, quando Cyva foi ao Rio de Janeiro fazer um curso de teatro com Adolfo Celli. Vinícius de Moraes, por intermédio de Carlos Coqueijo, conheceu Cyva e ficou encantado com a linda voz da baianinha – era dessa forma que ele a chamava. Anos depois, as irmãs de Cyva – Cybele, Cynara e Cylene - vieram definitivamente ao Rio e os laços de amizade que tinham nascido entre Vinícius e Cyva se ampliaram às demais baianinhas. O poetinha deu a elas toda a força e coragem que necessitavam e começou a mostrar a elas onde tudo acontecia: a noite carioca. Certo dia, as quatro irmãs em Cy foram levadas a uma festa, por Vinícius, na casa do arquiteto Maurício Roberto. Antes da festa, Vinícius foi logo avisando: "Levarei umas baianinhas para o jantar". Elas chegaram assustadas como quatro ginasianas. Sentaram-se juntas, de mãos dadas, quase não falavam. Algum tempo depois, já estavam menos tensas. E, quando chegava um convidado, como meninas bem amestradas, elas cantavam: “Bom dia, amigo. Que a paz esteja contigo”. Dessa forma foram conquistando a todos que conheciam, o que não poderia ser diferente! Nessa época, para se manterem, as meninas tinham outras atividades, além da música: Cyva era professora de Português; Cybele dava aulas no curso Normal; Cynara e Cylene eram secretárias. Os convites de Vinícius para festas e encontros musicais eram cada vez mais freqüentes - duas ou três noites por semana, o poeta batia à porta das meninas, sempre depois da meia-noite, e era recebido por solenes meninas de pijama, e as carregava para as festas. Com isso, começaram a conviver com Baden Powell, Edu Lobo e Francis Hime.
As irmãs em Cy ainda não tinham um nome para o grupo vocal e em reunião com Vinícius e Carlos Lyra decidiram por Quarteto em Cy. E ficou! O Cy, com o tempo, se tornou marca de qualidade, profissionalismo e boa música. Estrearam profissionalmente no Bottles’s Bar, em 30 de junho de 1964. As meninas começaram a fazer alguns trabalhos juntamente com Vinícius e Caymmi, como o show antológico na boite ZumZum, mas o futuro do Quarteto em Cy ainda era incerto, como desabafa Cyva em uma de suas cartas a Vinícius: "Achei comovente você ainda acreditar no Quarteto em Cy. Tenho-me esforçado por continuar acreditando, pois ele caminha a passos de tartaruga, o que nos impacienta, sabe? É como se estivesse condenado. Íamos fazer um show com Carlinhos Lyra no Teatro Santa Rosa, mas não deu certo. Depois, o Flávio Ramos começou a organizar um show conosco no Bon Gourmet, mas teve que fechá-lo. Resultado: vamos ficar frustradas com isso, que chamamos de "superazar". Agora terminamos por nos dar um prazo. Depois disso, Cybele voltará para a Bahia a fim de casar-se. Estou contando isso para você não alimentar ilusões a respeito do quarteto, ainda." Mas elas mal sabiam o que o futuro reservava para o ainda tímido Quarteto em Cy.
Serei forçada a resumir o que os anos reservaram às meninas, pois, do contrário, faltaria espaço para tanta história boa. Em entrevista com Cynara, ela resumiu bem os muitos capítulos dessa incrível saga em Cy: "Em 1966 Cylene saiu e foi morar em Araraquara, aí entrou a Regina no lugar dela. Em 1967, na volta dos Estados Unidos (ficamos 6 meses por lá), eu e a Cybele saímos porque não queríamos mais voltar para ficar lá. Aí entraram a Sonia e a Semíramis, e com esta formação foram para os Estados Unidos mas a Semíramis não quis ficar lá e deu no pé. Aí o Quarteto parou porque também a Sonia voltou. Enquanto isso, Cybele foi com o marido para os States e lá, refizeram o grupo com: Cyva, Cybele, Regina e Sandra, uma menina que já morava lá. Eu, aqui, fiquei sem a Cybele e fiz um LP solo, nessa época, que foi de 1969 a 1971. Em 1972 Cyva voltou dos States e resolvemos refazer o grupo aqui. Aí entrou novamente a Sonia e chamamos a Dorinha Tapajós, mais a Cyva e eu, claro. De 1972 a 1980 foi essa a formação. Em 80, a Dorinha adoeceu e saiu do grupo, entrando a Cybele (que havia voltado dos States). E é essa a formação até hoje: Cyva, Cybele, Cynara e Sonya. Gostou da história? é complicada de contar mas, se não fossem as várias formações, não teríamos o Quarteto até hoje. É mesmo uma saga. Mas com mulheres só pode ser mesmo assim. Mulher vem acompanhada sempre de marido, filhos, etc. E a coisa fica difícil de levar para sempre."
O que era uma incerteza para as meninas, tornou-se motivo de orgulho não só para o Brasil como para todo o mundo, pois o grupo é muito querido no Japão, EUA, Espanha, entre outros tantos países. São mais de quatro décadas de carreira, mais de cinqüenta discos – sem contar com as participações em trabalhos de outros artistas -, mais de quatrocentas músicas gravadas e esses números tendem a aumentar a cada dia, pois o grupo reserva muitas surpresas super especias como o novo CD- Sambas em Cy-, o segundo DVD, novo show e uma biografia que promete sair ainda esse ano.
Ufa! Nós é que precisamos ter pique para acompanhar essas incansáveis meninas. Quanto ao futuro do Quarteto em Cy, esse é certo e irresistível: sucesso, sucesso, sucesso e mais sucesso. Agora, creio que a melhor coisa que você deva fazer é escolher um lugar bem sossegado, livrar a mente de quaisquer pensamentos, colocar um CD do Quarteto para tocar e está feito! O final dessa história... Você já deve imaginar!!!
sábado, janeiro 21, 2006
Viva Sidney Miller!
Amigos! Peço desculpas e mais desculpas pela minha ausência, porém o tempo tem sido curto! Prometo que teremos novidades em fevereiro, mas por enquanto vou continuar como um simples escriba.
Venho usar esse espaço a mim cedido, para reverenciar um dos maiores nomes da Música Brasileira. Conhecido por poucos, com uma obra curta, uma morte prematura, mas uma genialidade única e que merece muito mais espaço e louvor por nós, amantes da MPB.
O nome dele é Sidney Álvaro Miller Filho, ou simplesmente Sidney Miller. Carioca, nascido em 18 de abril de 1945. Aprendeu a tocar violão sozinho, começou a compor aos 17 anos e despontou como compositor na década de 60. Teve seu trabalho registrado pela primeira vez com a gravação de "Queixa", samba feito em parceira com Zé Kéti e Paulo Tiago, em 1965. Sidney participou de muitos festivais, obtendo sucesso em praticamente todos e tornando-se assim uma estrela de primeira grandeza dos festivais de música brasileira, ao lado de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Geraldo Vandré e Paulinho da Viola.
Em 1966, ao escutar as músicas de Miller, Nara Leão se deslumbrou e gostou tanto das canções do novo compositor que não conseguiu escolher apenas uma para gravar, mas cinco. E gravou. Durante sua curta vida, Sidney Miller participou de composições para trilhas sonoras de filmes, músicas para peças de teatro, organizou espetáculos e produziu discos, como "Coisas deste mundo", de Nara Leão, em 1969.
As músicas de maior sucesso do compositor são: "Pede Passagem", "A estrada e o Violeiro", "É isso aí", "Maria Joana", "Alô Fevereiro", "Pois é, pra que?", "O Circo" entre outras. Estão na relação dos intérpretes de suas canções vários artistas como: Nara Leão, Quarteto em Cy, MPB-4, Luiz Eça, Dóris Monteiro, Paulinho da Viola, Luli e Lucina, Joyce, Ruy Faria, Cynara e Cybele, entre outros grandes nomes da Música Brasileira.
Miller era grande amigo do então casal Cynara (Quarteto em Cy) e Ruy Faria (MPB-4), juntos compuseram a valsa "Oração do Astronauta". Ruy fala sobre o amigo: "Ele era uma pessoa admirável, dócil, um talento incomensurável e muito sensível. Atravessamos juntos memoráveis e divertidos momentos. Não sou muito chegado a este tipo de cobrança, mas creio que o nome e a genialidade do Sidney deveriam ser muito mais reverenciados".– afirma.
Sidney Miller trabalhava na Funarte (Fundação Nacional de Arte) e faleceu precocemente aos 35 anos, no dia 16 de julho de 1980. Após sua morte, a sala em que trabalhava na Funarte, no Rio de Janeiro, ganhou seu nome.
Eis aqui um artista que foi enquanto vivo um trabalhador incansável, engrandecendo decididamente a Música Brasileira, a verdadeira.
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