sábado, dezembro 10, 2005

"Não chore ainda não, que eu tenho um violão e nós vamos cantar..."


Êta companheiro bão! Vinícius de Moraes dizia: "Se o cachorro é o melhor amigo do homem, o uísque é o cachorro engarrafado". Pois bem, se o poetinha falou, está falado. Mas há de se salientar, que outro grande amigo do homem é o violão. É claro que o instrumento é de mais difícil transporte que uma simples garrafa de uísque. Os prazeres também são diferentes, mas uma dose de "cachorro engarrafado" junto de um belo acorde no violão, traz sensações indescritíveis.

Um violão debaixo do braço, uma roda de amigos desafinados, uma Bossa Nova, um sarau, um luau. Música, muita música (da boa). O que é música boa? Respondo facilmente e sem hipocrisia: música boa é o que quase não se faz mais hoje em dia, ou melhor, até se faz, mas não temos oportunidade de escuta-las. A mídia nos engole. Alguém me indagaria: "Mas quem é você para julgar o que é música boa e o que é música ruim?". E eu responderia: escute Tom Jobim e depois, logo depois, segundos depois, escute Kelly Key. Se a pessoa estiver em sã consciência, terá o mesmo poder de julgamento que eu.

Mas estou aqui para falar do violão. Instrumento companheiro, cúmplice dos mais diversos tipos de estados de espírito: felicidade, tristeza, alegria, insatisfação, revolta, louvor, protesto, sabedoria, angústia, paz, amor, paixão, dentre tantos e tantos outros. A maioria dos grandes compositores do nosso vasto e lindo país usou o próprio violão como parte de suas obras, vide o título desse texto, retirado da canção "Olê, Olá", de Chico Buarque de Hollanda.

Faço aqui esta pequena homenagem a um dos grandes culpados pela criação de músicas em todo o mundo, principalmente na nossa MPB.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

"Meu poeta eu hoje estou contente..."


Eu devo ter ido ao cinema nesses últimos três anos umas cinco vezes. Porém, só no último mês de novembro eu fui parar sete vezes na frente da telona. O que me levou a essa proeza? A resposta é fácil: "Coisa mais linda" e "Vinícius". Aqui vou me reservar a falar somente do filme de Miguel Faria Jr.

Na verdade não estou aqui para falar do filme e tenho dois bons motivos para isso: em primeiro lugar não quero atrapalhar a quem ainda não assistiu; em segundo, o Mocarzel que entende de filme não sou eu e sim Evaldo, meu "tio" cineasta. Aqui estou para falar sobre o principal personagem da película.

Às vezes, acredito que por ter nascido após sua morte, acho que Vinícius de Moraes é uma lenda. É inacreditável o que esse homem fez em toda sua vida. Um ser completamente apaixonado e apaixonante. Tenho a nítida sensação de que "Vininha" é de outro planeta e veio passar uma temporada aqui na Terra, uma temporada muito produtiva, diga-se de passagem.

Vinícius era apaixonado pelas pessoas. Bastava sentar ao bar com ele para virar um "parceirinho". Uma criatura grandiosa, que adorava as coisas no diminutivo: "Parceirinho, passa depois lá na minha casinha pra gente fazer uma musiquinha e tomar uma cervejinha". Assim era o Poeta: simples.

Falar de amor, rir de amor, sofrer de amor, brincar de amor. O fundamental é ter amor, e não é qualquer tipo de amor não, é amor de verdade: "que seja infinito enquanto dure". Vinícius de Moraes é estado de espírito. Vinícius de Moraes é aprender a ser responsável sem ter responsabilidade, é aprender a cantar ter sem música, é aprender a ler uma folha em branco, é aprender a ser feliz sem ter felicidade.

Vinícius de Moraes, poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil na linha direta de Xangô. Salve a MPB! Salve Vinícius de Moraes!

P.S.: Não resisti e vou ter que falar do filme, mas é curto e grosso. O Quarteto em Cy não aparece na história. Isso é um absurdo.

domingo, dezembro 04, 2005

O "que é" Roberta Sá?

Alguém me responderia: "imagine Bebel Gilberto com laivos de Gal Costa e Marisa Monte". Outro alguém responderia: "uma jovem cantora com sua identidade musical muito bem definida. Impressiona pela sua segurança no palco e sua simpatia fora dele". Mais um diria: "afinada, segura e sem afetação, canta como que se respirasse". Essa é Roberta Varella Sá, a mais grata revelação da Música Popular Brasileira dos últimos anos.

"Uma cantora de samba que não sabe sambar". Quem um dia me disse isso nunca deve ter ido vê-la num show. Ora bolas, ela não canta com o pé! Roberta realmente não precisa sambar, até porque não canta só samba. Sua presença de palco é nítida, cada movimento que faz é acompanhado atentamente pelo público.

A voz? Sinceramente, nunca vi nada igual. Pode haver parecida, porém igual....

Tive o prazer de estar nos dois shows feitos por Roberta no Teatro Rival, nos dias 02 e 03/12. Tinha o público na mão. Com os pés descalços e com uma requebrada única, a menina cantora transformou seu show em um lindo espetáculo. Mesmo quando esqueceu a letra da “Valsa da Solidão” de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, Roberta manteve a postura, parou suavemente a melodia e disse: "Gente, esqueci a letra"; e foi aplaudidíssima, assim como durante todo o show, em ambos os dias. Não posso deixar de citar a banda que acompanha a menina Sá: músicos de primeira. Em especial Antônia, a violonista, como toca bem! Pedro Luís (sem a "Parede", mas com seu cavaco) abrilhantou os dois dias. A bamba Juliana Diniz deu o ar da graça no segundo dia, fazendo uma bela participação.

Pois bem. Não tenho medo de exagerar dizendo que Roberta Sá tem hoje a mais bela voz da Música Popular Brasileira. Tenho certeza que ainda falarei muito dela por aqui. Ah, aconselho que comprem seu CD. É uma obra prima. "Braseiro" é o nome do álbum.

Chico Buarque disse sobre Dorival Caymmi: "Eu não sei de onde veio Caymmi e não sei para onde vai Caymmi". Guardadas devidas proporções, eu digo sobre Roberta Sá: "Eu sei de onde veio Roberta, mas não sei para onde vai Roberta".

Outras informações:
http://www.robertasa.com.br

sábado, dezembro 03, 2005

Salvemos a verdadeira Música Popular Brasileira


Estava cá pensando com meus botões e me senti extremamente sozinho numa luta. Uma luta que consiste em mostrar para a nossa juventude a verdadeira música brasileira. Eu, com meus 20 anos, me sinto completamente isolado num mundo dominado por ritmos atordoantes, melodias sem doçura e letras absurdas, sem sentido. Como é triste ligar o rádio e ter que escutar músicas "enlatadas", ver a mídia nos empurrar Festa no apê e Fulana ingrata. É comovente ver artistas do porte de Ruy Faria e de Carlinhos Vergueiro atrás de gravadora, quando eram as gravadoras que deveriam estar correndo atrás deles, ou melhor, as gravadoras deveriam estar "quebrando o pau" por eles, mas não...

Fico me culpando, mesmo que injustamente, por não ter vivido em tempos atrás, no auge da Bossa Nova, de Chico Buarque, do MPB-4 (que com a saída de Ruy Faria perdeu sua identidade), do Quarteto em Cy, por exemplo. Lamento, mas quero gritar aos jovens de hoje: SALVEMOS NOSSO PATRIMÔNIO, SALVEMOS A VERDADEIRA MÚSICA BRASILEIRA! Vocês não imaginam o quanto eu sinto não ter podido assistir ao vivo a Elis Regina e Nara Leão, entre outros sensacionais ícones da nossa música. Hoje somos obrigados a ver imbecis que mal sabem dar um acorde no violão, ou sequer sabem o que é uma nota musical, subirem num palco e atrair milhares de pessoas para um show. E pior: se acham os "reis (ou rainhas) da cocada preta". Isso é irritante.

Talvez seja por isso que Chico Buarque de Hollanda tenha toda essa idolatria. Um artista que, para mim, se encontra entre os dez maiores da cultura nacional de todos os tempos. Chico Buarque engrandece sua obra e a si próprio, ao se preservar dessa mídia traiçoeira, que pode enaltecer alguém por um minuto e depois fuzilar esse mesmo alguém por semanas. Não é à toa que se costuma brincar dizendo que Chico parece Deus, pois todos sabem que Ele existe, mas ninguém vê. Genialidade, simplicidade, competência e carisma, esses foram os principais ingredientes da época de ouro da música brasileira e que poucos preservam até hoje. Citemos: Chico Buarque, Ruy Faria, Aldir Blanc, João Bosco, Toquinho, Roberto Menescal, João Gilberto, Marcos Valle, Edu Lobo, Dorival Caymmi, Milton Nascimento, entre poucos outros.

Não consigo encontrar na juventude do fim do século XX e do início do XXI uma postura intelectual, nem criativa. Somos esmagados pela política do "copia e cola", os jovens têm preguiça de pensar. Os jornais são trocados por jogos eletrônicos. A nossa cultura é fortemente influenciada pela globalização (leia-se: "Estados Unidos"), que não é mais tão assustadora assim, porém continua engolindo a alma da arte brasileira. É difícil imaginar que nos tempos atuais possam surgir movimentos como a Bossa Nova, a Jovem Guarda ou a Tropicália, movimentos estes que foram criados por jovens, em diferentes épocas, sacudindo a música brasileira. E a cada dia que passa, parecem estar sendo esquecidos.

Os jovens de hoje, em sua esmagadora maioria, não fazem a menor idéia do que foram e o que representam essas correntes musicais; e os que fazem ficam como eu, dando murro em ponta de faca, querendo levar nas costas o peso da importância da verdadeira música brasileira, de porta em porta, de casa em casa, em vão. Às vezes encontro pessoas com a mesma linha de pensamento que eu, pessoas que já se demonstram cansadas de tentar gritar pela mobilização de resgate da MPB e tentam me convencer de que é uma loucura ficar nessa luta. Inclusive um dos grandes ícones da nossa música, já citado aqui por mais de uma vez, foi uma dessas pessoas que tentaram me demover dessa batalha. Ele me disse o seguinte: "Meu caro, tudo isso já vem de longe e dificilmente acabará. Pacifique-se, portanto. Vamos continuar fazendo a nossa parte, meu amigo, mais amenos, talvez".E respondi assim a ele: "Talvez eu realmente possa estar exagerando, mas me sinto na obrigação de pelo menos tentar gritar aos meus jovens colegas no sentido de alertá-los de que a música brasileira, a verdadeira, precisa de ajuda".

É isso que eu faço e vou continuar fazendo, mesmo remando contra a maré. Acredito no jovem brasileiro e na sua capacidade de reflexão, por isso espero que essas palavras de indignação sirvam para que, num futuro próximo, a verdadeira Música Popular Brasileira saia da UTI. Salve!