domingo, outubro 25, 2009

Uma joia rara!


Boquiaberto, deslumbrado e completamente impressionado. Foi assim que fiquei ao ouvir a afinada e charmosa voz de uma jovem e talentosa mineira chamada Luiza Lara. Com 24 anos recém completados, a menina de traços delicados nascida em Divinópolis, cidade da região centro-oeste de Minas Gerais, desponta como uma grande promessa da Música Popular Brasileira.

Longe dos modismos que assombram a nossa música, Luiza traz em seu repertório canções marcantes e emblemáticas de grandes compositores do cancioneiro nacional como Guinga, Chico Buarque, Gilberto Gil, Vinícius de Moraes e Pixinguinha entre tantos outros.

Encontrei essa 'joia rara' de maneira muito curiosa, porém muito normal visto que vivemos em um mundo tão globalizado com a "Era da Internet". Recebi por e-mail, de um remetente desconhecido, a divulgação de um show que ela fizera em Belo Horizonte com a também cantora Michelle Andreazzi, no Projeto "Cantoras Daqui" do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Curioso e sempre a procura de novos talentos da MPB, fui atrás do trabalho das duas meninas. Eis que me deparo com essa preciosidade chamada Luiza Lara que, desde os 10 anos participa de gravações de jingles, integra grupos vocais e realiza gravações como vocalista em diversos CD’s.

Na expectativa de gravar seu primeiro CD solo, Luiza Lara chega para abrilhantar a música brasileira e emprestar sua delicada voz aos ouvidos que, ultimamente, têm sofrido com tanta música ruim e enlatada que nos empurram goela, ou melhor, ouvido abaixo. Seja bem-vinda, Luiza. A Música Popular Brasileira te agradece.

Salve Luiza Lara! Salve a MPB!

Para quem quiser conhecer a voz cristalina dessa joia, clique aqui.

CD “Amigo é pra essas coisas” de Cesar Mocarzel


Como se reunisse amigos de infância para jogar conversa fora, o jornalista e produtor cultural Cesar Mocarzel resolveu unir gerações da Música Popular Brasileira. Convidou jovens revelações e nomes já consagrados da nossa música para um projeto pioneiro. Gravado no Rio de Janeiro em dezembro de 2008, o CD "Amigo é pra essas coisas" revela um desconhecido talento de Cesar Mocarzel: a arte de compor. Das 14 faixas contidas no álbum, nove são assinadas por Cesar como compositor, sendo duas solo e sete parcerias. A principal delas, com um dos maiores nomes da Música Brasileira, Roberto Menescal. "Eu nunca pensei em chegar a tal patamar, pois outros parceiros mais constantes como Chico Alves e Fernando Brandão sempre foram meus professores, tanto que no CD, eu assino metade das composições com eles, mas quando o Menescal ouviu a música que eu havia mandado pra ele, aconteceu a química. Eu sou parceiro de Roberto Menescal. Quem diria?" - conta Cesar.


Além das nove músicas assinadas por Mocarzel, o CD traz outras quatro canções inéditas compostas por parceiros como Chico Alves, Zorba Devagar, Tiago Tenório e pelo Trio Calafrio, inúmeras vezes gravado por Zeca Pagodinho e formado por compositores consagrados como Marquinhos Diniz, Luís Grande e Barbeirinho do Jacarezinho. Para fechar com chave de ouro, a única regravação é da música que intitula o CD, "Amigo é pra essas coisas", de Silvio da Silva Júnior e Aldir Blanc, interpretada por Cesar Mocarzel e Ruy Faria, importante nome da Música Popular Brasileira e durante 40 anos principal voz do MPB-4.


Com previsão de lançamento para o mês de dezembro deste ano, o CD conta ainda com artistas renomados como Leila Pinheiro, Guinga, Roberto Menescal, Mestre Monarco da Portela, Marquinhos Diniz, Cláudia Telles, Quarteto em Cy, Ruy Faria, Chico Batera e Maestro Bocão. Além de nomes da nova geração como Marcela Mangabeira, Edu Krieger, Chico Faria, Eliza Lacerda, Nanda Garcia, Verônica Ferriani, Laura Zandonadi, Maurício Detoni, Ana Costa e Lê Santana. Os arranjos e a direção musical são do jovem músico Fernando Brandão e a direção geral é do próprio Cesar Mocarzel.


Como tira-gosto, você pode acessar o vídeo promocional do CD clicando aqui , afinal "Amigo é pra essas coisas"!

quinta-feira, junho 25, 2009

Ave, Claudinha!


Ave, Claudinha!

Com uma alegria indescritível, Cláudia Telles subiu ao palco do Teatro Rival no Rio de Janeiro para fazer mais um show do lançamento do CD "Quem sabe você". Gravado em São Paulo no início do ano, o álbum recolhe canções que, de alguma maneira, marcaram a vida da cantora.

Assim como no CD, Cláudia abriu o espetáculo com a música "Reza" de Edu Lobo e Ruy Guerra. Importante na vida de muita gente, inclusive na desse humilde escriba aqui, Roberto Menescal também deixou sua marca com a canção "Quem sabe você", uma parceria com o exímio letrista Abel Silva. Curiosamente, Claudia recebeu essa música do Menesca há mais de quatro anos, porém só veio a gravá-la agora. Entre tantas belas canções, um dos pontos altos do show aconteceu na interpretação de "Tema de não querer ver você triste" de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Mário Telles, já que essa foi a última canção gravada pela saudosa Sylvinha Telles, mãe de Cláudia. Logo após a introdução, a voz da cantora embargou, todos se emocionaram e sob uma salva de palmas o show continuou.

Outro ponto alto se deu quando Cláudia interpretou a canção "Sem você pra que", uma parceria de Sylvia Telles com Chico Anysio, que só fora lançada no Japão como "bônus track" de uma coletânea da saudosa musa da Bossa Nova. Eis que Claudinha pergunta ao público: "Vocês acham que eu só tenho mãe?", se referindo as inúmeras citações que escutou na vida do tipo: "Essa é a filha da Sylvinha". Foi quando no arpejo do violão e no acompanhamento do baixo ela desandou a cantar "Biquininho Azul", uma bossa composta pelo seu pai Candinho – grande violonista da áurea época da Bossa Nova – em parceria com Ronaldo Bôscoli.

Homenagens ao Miltinho, gênio do balanço e a Dolores Duran também marcaram o show, mas particularmente, a interpretação de "Canção das Flores", música pouco conhecida de Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro, foi de deixar qualquer poeta a ver navios. Que melodia! Que letra! Que interpretação! Na hora do bis, ou melhor, na hora do "mais um", Claudia não hesitou em cantar seu maior sucesso, a composição de Mauro Motta e Robson Jorge, "Fim de Tarde".

Depois do que vi, cheguei à conclusão de que a palavra "fim" deveria existir apenas no final dos filmes, pois eu ficaria dias e mais dias sentado na cadeira do Teatro Rival me deliciando com Cláudia Telles e com o Bossa Trio (Marcelo Lessa no violão, Joe Lima no Baixo e Cesar Machado na bateria).

Salve Cláudia Telles!

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Viva Noel!


"Seu garçom faça o favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada / Um pão bem quente com manteiga à beça / Um guardanapo e um copo d'água bem gelada / Feche a porta da direita com muito cuidado / Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol / Vá perguntar ao seu freguês do lado / Qual foi o resultado do futebol."


Esse é um trecho da composição "Conversa de Botequim", de Noel Rosa e Vadico, que retrata, de forma saborosa, a vida boêmia do Rio de Janeiro. Noel Rosa nasceu no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, que se tornou célebre através de suas músicas. Sua mãe teve um parto difícil e o médico precisou usar fórceps, o que teria causado seu problema no queixo, pouco proeminente. Noel cresceu franzino e doentio. Apesar disso, desde a adolescência interessou-se pela vida boêmia, freqüentando rodas de samba. Aprendeu a tocar bandolim com sua mãe, adotando depois o violão, que aprendeu a tocar com o pai, como seu instrumento. Em 1927, Noel fundou, com os compositores Almirante e Braguinha, o Bando dos Tangarás. Nesse ano, criou suas primeiras composições, "Minha Viola" e "Festa no Céu". Entrou para a Faculdade Nacional de Medicina em 1930, que abandonou dois anos depois. Em 1931, a composição "Com que Roupa?" tornou-se um grande sucesso no Carnaval. Durante a década de 1930, Noel Rosa tornou-se um compositor extremamente criativo e protagonizou uma carreira vertiginosa, com mais de uma centena de composições, entre sambas e marchinhas. Trabalhou com dezenas de parceiros. Foi nessa década que compôs os sucessos "Feitiço da Vila", "Filosofia", "Fita Amarela", "Gago Apaixonado", "O x do Problema", "Palpite Infeliz" e "Pra que Mentir". Noel Rosa vendeu suas músicas para outros cantores, tornando-se conhecido no rádio, pelas vozes de cantores como Araci de Almeida, Mário Reis e Francisco Alves. Além de serem crônicas da vida carioca, as letras bem elaboradas de Noel Rosa tematizaram o amor. Em 1934 o poeta apaixonou-se por Ceci, que conheceu numa festa junina. No fim desse ano, no entanto, acabou casando-se com Lindaura. Doente de tuberculose, Noel Rosa passou uma temporada em Belo Horizonte, em busca de tratamento, voltando depois ao Rio de Janeiro. Continuou levando a vida nos bares, bebendo e fumando. Apresentava-se em programas de rádio e fazia recitais e apresentações públicas. Em 1935, ainda viu duas composições suas estrearem no cinema, no filme "Alô, Alô Carnaval". Noel tinha apenas 26 anos quando faleceu em sua casa, no bairro de Vila Isabel e hoje, dia 11 de dezembro de 2007, se estivesse vivo, estaria completando 97 anos de vida. Viva Noel!

domingo, dezembro 09, 2007

Entrevista com Roberta Sá


Ela é sem sombra de dúvidas uma das principais vozes da Música Popular Brasileira atualmente. Em uma curta e vitoriosa carreira, a cantora potiguar radicada desde a infância no Rio de Janeiro, Roberta Sá, está lançando seu segundo álbum intitulado "Que belo estranho dia para se ter alegria".

Salve a Mpb: Roberta, para começar esse bate-papo, gostaria que você explicasse o que é esse belo estranho dia para ser ter alegria que dá nome ao seu CD?

Roberta Sá: Esse belo estranho dia é o dia que a gente vive. É o nosso dia-a-dia. É essa coisa de buscar a alegria dentro do caos das cidades e do mundo, na verdade.

Salve a Mpb: Assim como em seu primeiro CD, o segundo é total sucesso de crítica. Qual é a essência desse trabalho tão bem sucedido?

Roberta Sá: Eu acho que a essência dos trabalhos são as parcerias que eu consegui conquistar com o Rodrigo Campello (produtor musical), com o Felipe Abreu (preparador vocal) e com o João Mário Linhares (empresário).

Salve a Mpb: Roberta, hoje em dia a gente acaba se deparando com uma falta de educação generalizada no mundo. Ninguém mais fala bom dia, boa tarde, dá licença, obrigado e a frase eu te amo se banalizou. O conteúdo do seu CD trata muito desse nosso cotidiano. Como você analisa isso? Esse tratamento foi intencional na montagem do CD?

Roberta Sá: Foi completamente intencional, mas ao mesmo tempo, acho que o disco tem uma visão bem humorada dessas questões. A gente resolveu tratar desses assuntos, mas com otimismo, porque realmente as pessoas não falam bom dia, o trânsito está cada vez mais uma loucura, ninguém dá mais passagem pra ninguém, ninguém mais pára no sinal vermelho, falta paciência, falta compaixão, falta muita coisa, mas eu acho que tem muita gente que está acordando para isso. E o disco fala disso também, é uma visão otimista, uma visão de que as coisas podem melhorar e de que a gente pode passar por essas questões com leveza, se divertindo ainda e sendo feliz.

Salve a Mpb: Comparando seus dois álbuns, você acha que houve um amadurecimento pessoal e musical em tudo que vem acontecendo e de tudo que aconteceu de um CD para o outro ou vem sendo uma continuidade do seu trabalho?

Roberta Sá: Eu acho que as duas coisas. O amadurecimento vem dessa continuidade, uma continuidade de estar trabalhando com os mesmo parceiros, de ter podido durante esses dois anos desenvolver uma intimidade maior com as pessoas, com os músicos que trabalharam nesse disco e com os compositores que já estavam presentes no disco anterior. Então, é um amadurecimento dessas parcerias e também da continuidade de um trabalho, de uma linha de trabalho. Tanto que os repertórios dos dois discos, apesar de serem completamente diferentes, eles conversam, eles fazem parte de um universo musical, que é um universo dessas pessoas todas que se envolveram com esse trabalho.

Salve a Mpb: Roberta, há quase três anos, eu tive a oportunidade de entrevistar você, bem no começo da sua carreira, e você me dizia que em um país onde se tem compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim, Dorival Caymmi entre tantos outros tão grandes, quem quisesse compor algo, teria que fazer algo pelo menos igual ou melhor do que eles. Você defendia também a questão da intérprete, ou seja, quem se dedicasse exclusivamente a cantar. Nesse disco você se lança como compositora em parceria com Pedro Luís com a música "Janeiros". Explica pra gente essa novidade.

Roberta Sá: Bom, primeiro eu não me considero compositora só porque eu fiz uma canção. Essa canção foi uma das últimas a entrar no disco e eu não me considero compositora só por causa dela. Compositora é aquela pessoa que o ofício dela é escrever e compor, ela se dedica a isso. Então, não é o meu caso não é, e muito provavelmente não vai ser, embora eu ache que não se possa negar uma inspiração que apareça, e a única coisa que eu fiz foi não negar uma inspiração que me veio e concluir uma canção com meu parceiro Pedro Luís. Eu ainda me considero uma intérprete, ainda é a minha essência escolher e colher canções para cantar, colher compositores e escolher esses compositores, esse é o meu ofício, é a isso que me dedico. Tenho que encontrar a melhor maneira de cantar essas canções que eu escolhi. E para esse disco eu apenas escolhi uma canção que era minha, ela também foi escolhida, ela também faz parte do meu trabalho de intérprete. Eu acho que o Brasil tem uma tradição de compositores geniais e que a gente tem que se orgulhar e se inspirar neles, mas ao mesmo tempo a gente não pode para de produzir, deixando com que isso trave a criatividade da gente, senão a gente não anda pra frente, só fica olhando pra trás. Eu acho importantíssimo olhar pra trás, inclusive é um hábito meu olhar pra música, olhar para os grandes compositores e para os grandes intérpretes, mas para crescer, para ir para frente.

Salve a Mpb: Já que você tocou nesse ponto de compositores e de olhar para trás, nos anos 60 e 70, Nara Leão ficou marcada além da bela voz, por ser responsável pelo lançamento em âmbito nacional de compositores como Chico Buarque, Zé Kéti e Sidney Miller entre outros. Você acha que podemos colocar você em situação parecida hoje em dia, ao dar a voz e oportunidade às canções de Lula Queiroga, Edu Krieger, Rodrigo Maranhão e Roque Ferreira?

Roberta Sá: Olha, eu ficaria muito orgulhosa se isso fosse verdade. A gente não tem o distanciamento para dizer o que qualquer pessoa que está vivendo hoje representa para a música brasileira. Tomara que isso seja verdade, pois me deixaria muito orgulhosa. O que eu tento como intérprete, não só como intérprete de canções, mas também como intérprete do meu tempo, intérprete do mundo de hoje, pelo menos da cena que eu vivo, da minha aldeia, que é o Rio de Janeiro e os lugares que eu conheço, eu tento traduzir isso através dos compositores que eu conheço e que eu admiro, mas não sei se eu posso ser uma Nara. Nossa, eu ficaria orgulhosíssima, pois eu acho a Nara, inclusive, de extrema importância para a música brasileira. Tomara que eu tenha pelo menos um terço da importância que ela teve.

Salve a Mpb: Você tem intenção em gravar um CD homenageando um único compositor, seja ele da nova geração ou alguém já consagrado?

Roberta Sá: Tenho. Tenho, sim. Existe até um projeto. Eu tenho uma parceira muito forte com o Trio Madeira Brasil, uma parceria muito grande, que vem lá trás, desde o lançamento do meu primeiro disco e, a partir daí ficamos amigos e parceiros musicais, a gente se identifica muito, é muito fácil pra gente trabalhar junto. Então, a gente tem esse projeto de fazer esse disco juntos, mas a nossa idéia principal era de fazer um disco só com canções do Roque Ferreira, que é um compositor que foi muito generoso comigo, pois quando eu pedi uma canção pra ele, ele me mandou vinte, depois me mandou mais dez, então eu tenho um repertório do Roque muito grande e eu tenho vontade de colocar isso em disco junto com o Trio Madeira Brasil, porque o Roque merece, ele é um grande compositor, ele merece ter o nome dele ligado a uma obra com o nome dele, ele merece essa homenagem. Vamos ver quando isso vai acontecer, posso dizer que é uma coisa mais pra frente, mas que eu tenho muita vontade de fazer, sim.

Salve a Mpb: Roberta, gostaria muito de agradecer por esse bate-papo e desejar que você continue nesse caminho de sucesso, com essa simpatia e todo esse talento. Muito obrigado.

Roberta Sá: Obrigada a você, Cesar. Muito sucesso para você e, quando precisar, é só chamar. Beijo grande.

quarta-feira, maio 09, 2007

Marcela Mangabeira: Simples assim...


Afinada, simples e encantadora. Esses são três dos mil e um adjetivos que eu poderia usar para começar essa crônica sobre a futura maior cantora desse país: Marcela Mangabeira.

No show oficial de lançamento do Cd "Simples", no Centro Cultural Carioca, Marcela Mangabeira e seu trio de ases – Lancaster (baixo), Flávio Mendes (guitarra) e Nando Leal (programações) – trouxeram o que a Música Popular Brasileira precisa: novos ares, porém respeitando toda harmonia deixada pelo legado da Bossa Nova, ou seja, uma batida moderna casada com o que mestres como Tom Jobim, Roberto Menescal e João Donato entre outros, nos ensinaram e ainda ensinam harmonicamente.

Marcela é como o título do seu primeiro Cd, 'Simples'. É a mesma pessoa seja no palco do Canecão ou em um palco improvisado. Seu canto é puro e natural, como um passarinho que já nasce com o dom de solfejar notas afinadíssimas. Marcela Mangabeira nasceu assim, com esse dom de fazer nossos sofridos ouvidos, enfim, felizes.

Nelson Motta disse: "Marcela Mangabeira aparece como uma das melhores revelações do ano". Não posso nem devo comparar qualquer crítica minha às do Professor Motta, mas por conhecer melhor o trabalho, a índole e a capacidade dessa menina recifense, crescida em Cuiabá e atualmente moradora do Rio de Janeiro, ouso terminar essa crônica como comecei; Marcela Mangabeira: a futura maior cantora desse país varonil.

domingo, novembro 05, 2006

“Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira.”

Por Gabriela Carneiro

Escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes na década de 70, a peça Gota d´Água chegou novamente ao Rio através de uma montagem paulistana. Em formato de arena, a tragédia grega de Medéia é transportada para a Vila do Meio-Dia, um pobre conjunto habitacional carioca.
Condensado em pouco mais de duas horas, o enredo desenvolve-se a partir do insaciável desejo de vingança de Joana, abandonada com dois filhos por um Jasão sambista, o qual irá casar-se com a filha do poderoso Creonte, dono do tal conjunto.
O grupo aproveita as referências à religiosidade brasileira já existentes no original da peça e, num belo trabalho de expressão corporal, consegue inscrever a manifestação desses orixás e incorporações na incrível movimentação de Joana e nos pontos de macumba entoados em alguns momentos da apresentação.
Joana (Georgette Fadel) faz por merecer o papel originalmente destinado a Bibi Ferreira. Já no primeiro pé que ela pôs em cena, a transbordar angústia, ganhei um nó na garganta que, ao longo da peça, foi aliviado muitas vezes através de boas risadas. No entanto, o público destinava-se cada vez mais a uma catarse. Mesmo já conhecendo o enredo, inevitavelmente saí com uma grande facada, dilacerando-me do estômago aos olhos.
É humano, demasiadamente humano, do início ao fim. Entretanto, admito, é muito provável que uma mulher sinta com mais intensidade o drama principal, que leva Joana a dar cabo da própria e vida e da dos filhos. A intragável dor da traição, o cego desejo de vingança que acomete a personagem feminina renegada, o desespero de quem ama, de quem não tem amanhã nem por onde se impor. Seja pela condição de classe, seja pela condição de gênero.
Talvez alguns sintam falta dos arranjos originais, entretanto a direção musical banca a aposta alta. Além disso, exceto por Georgette, que é irretocável a peça inteira, senti-me incomodada com alguns momentos sérios de queda na evolução do texto. Entretanto, não há muito do que se reclamar, a montagem é ousada sim, mas bastante eficaz no que se propõe. No final das contas, saí com uma enorme vontade de voltar.
Há muito tempo não via uma peça ser ovacionada daquela forma, uma pena ter ficado em cartaz por somente duas semanas. Fica aqui o meu sincero aplauso.

Gota D´Água – Breviário

Ficha Técnica: Direção Geral: Heron Coelho Direção Musical: Alessandro PenezziElenco: Georgette Fadel, Cristiano Tomiossi, Alexandre Krug, José Eduardo Rennó, Daniela Duarte, Luciana Barros e Flávia Melman Músicos: Alessandro Pennezi e Miró Parma.

domingo, agosto 13, 2006

A voz da alma e o fole de fôlego


Por Jorge Moutinho

A voz suave, melodiosa, firme de Mônica Salmaso, embebida do mais puro mel da boa música popular brasileira, adicionada – verbo tão em moda em tempos de internet, msn, skype etc. – ao acordeom tão virtuosamente "foleado" por Toninho Ferragutti, que vale por um conjunto de baile ou – por que não? – até por uma orquestra. Esta é a receita de um extraordinário encontro de talentos que se viu em julho (duas únicas e disputadas apresentações) no palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro – na ocasião, quando vieram de São Paulo ao Rio de Janeiro para fazer os shows, os dois aproveitaram para dar uma bela entrevista a Ruy Faria (ex-MPB-4) no programa "De papo pro ar", na InterativaWebTV (www.interativawebtv.com.br).

No palco (aguarda-se um CD na agenda repleta dos dois), Mônica e Toninho lapidam pepitas como Santinha da serra, de Moacyr Santos (ao maestro de tantas "coisas" extraordinárias, nossas homenagens) e Vinícius de Moraes; Recenseamento no morro, de Assis Valente; a quase trágica Vingança (Francisco Mattoso e José Maria de Abreu), do repertório de Gastão Formenti; e tantas outras, com direito a uma canção do repertório do "sertânico" Elomar Figueira de Mello, "caboclo" de Vitória da Conquista (Bahia), da região das barrancas do Rio Gavião.

Profissionalismo, bom gosto, respeito à MPB e aos ouvidos do público, emoção à flor da pele. É nisso que dá o encontro de Toninho Ferragutti e Mônica Salmaso – a qual se revela no show uma exímia contadora de "causos". Como resultado, uma embevecida e emocionada platéia, sempre atenta para mais um bis. A música popular brasileira agradece.