Por Gabriela Carneiro
Escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes na década de 70, a peça Gota d´Água chegou novamente ao Rio através de uma montagem paulistana. Em formato de arena, a tragédia grega de Medéia é transportada para a Vila do Meio-Dia, um pobre conjunto habitacional carioca.
Condensado em pouco mais de duas horas, o enredo desenvolve-se a partir do insaciável desejo de vingança de Joana, abandonada com dois filhos por um Jasão sambista, o qual irá casar-se com a filha do poderoso Creonte, dono do tal conjunto.
O grupo aproveita as referências à religiosidade brasileira já existentes no original da peça e, num belo trabalho de expressão corporal, consegue inscrever a manifestação desses orixás e incorporações na incrível movimentação de Joana e nos pontos de macumba entoados em alguns momentos da apresentação.
Joana (Georgette Fadel) faz por merecer o papel originalmente destinado a Bibi Ferreira. Já no primeiro pé que ela pôs em cena, a transbordar angústia, ganhei um nó na garganta que, ao longo da peça, foi aliviado muitas vezes através de boas risadas. No entanto, o público destinava-se cada vez mais a uma catarse. Mesmo já conhecendo o enredo, inevitavelmente saí com uma grande facada, dilacerando-me do estômago aos olhos.
É humano, demasiadamente humano, do início ao fim. Entretanto, admito, é muito provável que uma mulher sinta com mais intensidade o drama principal, que leva Joana a dar cabo da própria e vida e da dos filhos. A intragável dor da traição, o cego desejo de vingança que acomete a personagem feminina renegada, o desespero de quem ama, de quem não tem amanhã nem por onde se impor. Seja pela condição de classe, seja pela condição de gênero.
Talvez alguns sintam falta dos arranjos originais, entretanto a direção musical banca a aposta alta. Além disso, exceto por Georgette, que é irretocável a peça inteira, senti-me incomodada com alguns momentos sérios de queda na evolução do texto. Entretanto, não há muito do que se reclamar, a montagem é ousada sim, mas bastante eficaz no que se propõe. No final das contas, saí com uma enorme vontade de voltar.
Há muito tempo não via uma peça ser ovacionada daquela forma, uma pena ter ficado em cartaz por somente duas semanas. Fica aqui o meu sincero aplauso.
Gota D´Água – Breviário
Ficha Técnica: Direção Geral: Heron Coelho Direção Musical: Alessandro PenezziElenco: Georgette Fadel, Cristiano Tomiossi, Alexandre Krug, José Eduardo Rennó, Daniela Duarte, Luciana Barros e Flávia Melman Músicos: Alessandro Pennezi e Miró Parma.
domingo, novembro 05, 2006
domingo, agosto 13, 2006
A voz da alma e o fole de fôlego
Por Jorge Moutinho
A voz suave, melodiosa, firme de Mônica Salmaso, embebida do mais puro mel da boa música popular brasileira, adicionada – verbo tão em moda em tempos de internet, msn, skype etc. – ao acordeom tão virtuosamente "foleado" por Toninho Ferragutti, que vale por um conjunto de baile ou – por que não? – até por uma orquestra. Esta é a receita de um extraordinário encontro de talentos que se viu em julho (duas únicas e disputadas apresentações) no palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro – na ocasião, quando vieram de São Paulo ao Rio de Janeiro para fazer os shows, os dois aproveitaram para dar uma bela entrevista a Ruy Faria (ex-MPB-4) no programa "De papo pro ar", na InterativaWebTV (www.interativawebtv.com.br).
No palco (aguarda-se um CD na agenda repleta dos dois), Mônica e Toninho lapidam pepitas como Santinha da serra, de Moacyr Santos (ao maestro de tantas "coisas" extraordinárias, nossas homenagens) e Vinícius de Moraes; Recenseamento no morro, de Assis Valente; a quase trágica Vingança (Francisco Mattoso e José Maria de Abreu), do repertório de Gastão Formenti; e tantas outras, com direito a uma canção do repertório do "sertânico" Elomar Figueira de Mello, "caboclo" de Vitória da Conquista (Bahia), da região das barrancas do Rio Gavião.
Profissionalismo, bom gosto, respeito à MPB e aos ouvidos do público, emoção à flor da pele. É nisso que dá o encontro de Toninho Ferragutti e Mônica Salmaso – a qual se revela no show uma exímia contadora de "causos". Como resultado, uma embevecida e emocionada platéia, sempre atenta para mais um bis. A música popular brasileira agradece.
sábado, agosto 12, 2006
Quarenta em Cy!
Foto: Natália Arduíno
A cidade de Niterói, através do Teatro da Associação Médica Fluminense, recebeu o Quarteto em Cy para a gravação do DVD em comemoração de seus 40 anos de carreira. O show em homenagem a Dorival Caymmi e a Vinícius de Moraes reuniu um repertório muito bem escolhido, reunindo as principais obras desses "monstros" da Música Popular Brasileira.
E ninguém melhor do que Cynara para falar sobre mais essa realização, agora, após 40 anos de estrada:
"Não sei se já tive a oportunidade de falar sobre a gravação do DVD. Mas falo novamente: foi muito legal, o público maravilhoso, os músicos tinindo...
Tivemos um probleminha de som logo no começo, por conta do meu microfone que pifou, problemas técnicos, mesmo. Mas em seguida rolou tudo muito bem, o público foi avisado e deu um show de paciência, participando de tudo. Tivemos as participações do Ruy e do Chico Faria que muito nos honraram. Agora é mixar e fazer os links com depoimentos de pessoas ligadas à nossa carreira, como Carlos Lyra, Toquinho, Chico, e talvez o Dory Caymmi, se ele estiver no Brasil. Tomara! Beijos a todos e espero ansiosa pelo lançamento desse DVD que amei fazer. Cynara"
Ao Quarteto em Cy, com palmas e de pé, minha mais emocionada e feliz reverência pelo show de gravação do DVD - 40 anos de carreira. Além de homenagear as pessoas certas: Caymmi e Vinícius, um repertório impecável e seis vozes ímpares. Seis vozes?! Sim, pois as meninas são um show a parte, mas a participação do Ruy e do Chico Faria foram especiais demais. Novamente, com palmas e de pé, reverencio Cybele, Cynara, Cyva e Sonya (formação no palco), além de todos os músicos e equipe. Saravá! Niterói agradece o presente!
Com a licença do "Poetinha" - "Se todos fossem iguais a VOCÊS que maravilha viver..."
* Saiba mais sobre o Quarteto em Cy
E a Bossa continua Nova!
Fui parar no Mistura Fina, casa de shows aqui no Rio de Janeiro, a convite de Roberto Menescal para assistir ao show "Swingueira", mesmo nome dado ao mais recente álbum dele com Wanda Sá. . No palco: Roberto Menescal (voz e violão), Wanda Sá (voz e violão), André Souza (piano), Adriano Giffoni (baixo acústico) e Márcio Bahia (bateria) comprovaram que a nossa Bossa continua Nova, trazendo para o público um repertório mesclando o consagrado e novo, com selo de garantia de quem criou e viveu a Bossa.
O show é marcado pelas parcerias antigas e marcantes de Menescal com Ronaldo Bôscoli (Mar Amar, Errinho à toa, A morte de um Deus de sal, Copacabana de Sempre e Telefone), Lula Freire (Vai de vez, Amanhecendo e Adriana), Chico Buarque (Bye, Bye Brasil) e uma nova com Wanda Sá, intitulada "Ninguém". Além de contar com músicas de Billy Blanco (A Banca do Destino), Vinícius de Moraes e Baden Powel (Tem Dó) e uma nova composição de Pery Ribeiro, chamada "Um abraço no Menescal e no Bôscoli", homenageando uma das mais bem sucedidas duplas de compositores da MPB, com muita justiça.
Em um formato tradicional, Roberto Menescal e Wanda Sá, intercalaram músicas e histórias. Ah! Histórias da Bossa Nova. Se eu pudesse, pediria que eles fizessem um show só de histórias, pois eleva a alma, engrandece o pensamento, alimenta o nosso viver e reflete o que realmente há de bom na Música Popular Brasileira. Um banquinho e um contador de "causos" da Bossa. Algo mais? Talvez o violão, pra depois!
Apesar de ter ficado muito satisfeito com a qualidade do show, com as músicas e com os músicos, não posso negar que algo me chamou muito a atenção. Como eu disse acima, a nossa Bossa continua Nova, mas o público não me pareceu renovado, infelizmente. Não tenho certeza da capacidade do Mistura Fina, mas contei nos dedos da mão esquerda quantos jovens (na idade) estavam presentes. Eram quatro, contando comigo. E olha que a casa estava lotada, chutando pouco mais de cem lugares. Ainda assim, pelo belo espetáculo, fiquei satisfeito.
Salve Roberto Menescal! Salve Wanda Sá! Salve a MPB!
terça-feira, junho 06, 2006
"Au, au, au. Hi-ho hi-ho. Miau, miau, miau. Cocorocó."
Como é bom ser criança. Melhor do que ser criança é crescer ouvindo e aprendendo músicas e histórias de qualidade e com conteúdo relevante, informativo.
Em uma montagem completamente inovada de "Os Saltimbancos", peça infantil de Chico Buarque de Hollanda, o grupo teatral Mequetrefe conquistou o público infantil e adulto de Niterói. Os pais que levaram seus filhos para se divertir na peça tiveram uma grande e positiva surpresa, pois puderam dar muitas risadas e acabaram se sentindo crianças também. O roteiro é muito bem conduzido, os improvisos são feitos nas horas certas e o entrosamento entre os atores é notável.
Acabarei sendo repetitivo por estar sempre falando sobre competência nos meus textos aqui do "Salve a MPB", só que, mais uma vez, me deparei com outro grupo esforçado, que tem na alta qualidade do trabalho que faz uma prova concreta de que a arte nacional vive – só não tem oportunidade e espaço. Fico cá pensando com meus 'borbotões': "Esse espetáculo, sucesso de público e crítica, não pode ficar restrito a Niterói." É preciso que espaços sejam abertos para esse tipo de trabalho. Não podemos ficar à mercê da boa vontade de empresários. É necessário incentivar a cultura brasileira e aqueles que se esforçam pela propagação dela.
De pé e com palmas, saúdo Thais Galliac (gata), Juliana Gigante (galinha), Daniel Chevrand (cachorro) e Thiago Tenório (jumento), além de toda a equipe, que "andou pra burro" para transformar uma simples peça infantil em uma atração repleta de dicas para a formação das crianças que lá estiveram. Os marmanjos que foram ao Teatro da UFF também tiveram a oportunidade de perceber críticas sociais insertas nas falas e nas canções durante toda a encenação de "Os Saltimbancos".
Vou ficando por aqui com a certeza de que esse belo trabalho será futuramente reconhecido em outros palcos do país e na torcida para que esse esforço possa servir de exemplo a outros grupos que vislumbram um futuro vitorioso e de sucesso.
Direção Geral: Thais Galliac e Juliana Gigante. Direção Musical: Bruno Silva. Direção de Atores: Orleni Torres. Roteiro: Thais Galliac, Juliana Gigante, Thiago Tenório e Daniel Chevrand. Piano: Victor Saraiva. Produção: Vox Produções.
sexta-feira, junho 02, 2006
"O Poeta, A Rosa e As Canções" – Um projeto, uma oficina, um show.
Por Natália Guimarães / Foto: Natália Arduino
Mão e Luva! Alguém gritava da platéia provocando risos nos que entendiam a situação. Isso é uma história que nós vamos explicar, dizia Pedro Luís...
O show "O Poeta, A Rosa e As Canções" foi a conclusão de uma oficina que aconteceu no Sesc de Copacabana. O projeto de reunir músicas inéditas de Pedro e clássicos brasileiros gravados por duplas foi concretizado, em um espetáculo com a participação de Pedro Luís e Roberta Sá nos vocais; Celso Alvim na percussão e Marcello Gonçalves no violão de 7 cordas.
Durante seis encontros, os participantes acompanharam o processo de concepção e execução do espetáculo musical - desde a escolha de tons e definição das interpretações, passando pela elaboração dos arranjos instrumentais, ensaios, montagem do cenário, afinação da iluminação, passagem de som, até finalmente, o show aberto ao público.
Todas as etapas foram acompanhadas pela diretora de cena Bianca Ramoneda; pelo diretor de palco Mário Micco e pela produtora executiva Gabriela Azevedo. Os ouvintes - mesmo na posição de observadores - puderam fazer questionamentos, participar dando opiniões, ajudar na produção e até sugerir músicas ao repertório.
Três semanas. Dois encontros semanais. Apesar do curto período para a sua concepção, o show foi um sucesso. Os participantes da oficina se sentiram realizados ao ver o resultado do trabalho do qual fizeram parte. Além disso, o público demonstrou intensa aprovação entusiasmando-se até com a possibilidade de um CD.
No show foram apresentadas canções lindíssimas de autoria de Pedro Luís, inéditas em sua maioria. "Ponto enredo" abriu noite com suas palmas sincopadas. Em seguida, "Joana" e "Maria Joana" – a segunda, música de Sidney Miller, gravada por Gal Costa no disco Domingo de Gal e Caetano Velloso, de 1967 – e "Os Beijos". Em menção à dupla Elza Soares e Miltinho, Roberta e Pedro dividiram o pout-pourri "Beijo na boca" e "Requebre que eu dou um doce" gravadas no disco Elza, Miltinho e Samba. "Sonho de amor e paz" de Vinícius de Moraes e Baden Powell serviu de inspiração para a canção "Samba do amor e ódio" de Pedro Luís em parceria com Carlos Renó. Tematizando o show, "Louco por rosa" de Pedro Luís. “Lua”, "Seresta" e "Valsa (Tudo está ali)" marcaram um momento suave e romântico da apresentação. Logo depois o clima começou a esquentar. "Fogo e Gasolina" – com seu estilo de duelo ping-pong - causou uma perda nos olhares da platéia entre Pedro e Roberta. Seguindo, um embalo de samba praieiro de "Cantiga" com citação à "Maricotinha" - sugerida por um dos integrantes da oficina – e "Girando na Renda" fecharam o show deixando a platéia eufórica. No bis, duas músicas: a inédita "Mão e luva" e "No Braseiro", gravada por Roberta Sá em seu primeiro disco.
O cenário casava-se com a iluminação. Duzentas e trinta rosas feitas de ferro - uma a uma - foram penduradas no teto. Nelas, contrastavam-se luzes vermelhas, simulando estarem em brasa; brancas, azuis, verdes e muitas outras que coloriram o cenário.
Um espetáculo inesquecível para quem participou, marcante para quem assistiu e desejoso de que vá além de uma única apresentação.
domingo, março 26, 2006
Elas dão vida às mulheres de Chico Buarque!
Elas cantam e encantam. Com um repertório único e exclusivamente dedicado à obra de Chico Buarque de Hollanda, o grupo vocal feminino "Mulheres de Hollanda" chegou de fininho e com muito carisma e competência, vai conquistando uma grande fatia do exigente público carioca que, com muita satisfação lotam todas as "casas" onde elas se apresentam. Composto pelas doces e marcantes vozes de Karla Boechat, Ana Cuba, Malu von Krüger, Eliza Lacerda e Marcela Mangabeira, o grupo que ainda conta com a cantora Adriana Poças que está em licença maternidade, vem se tornando uma grande referência dos conjuntos vocais do Rio de Janeiro, quiçá do Brasil.
Um trabalho que foi ensaiado por quase quatro anos, antes de sua estréia em 2004. Estréia essa realizada para uma platéia de músicos, ou seja, ouvidos apurados e muito conhecimento sobre o que estava acontecendo. Mas como já disse acima, o trabalho, a competência e o carisma falaram mais alto. Um sucesso total. Daí pra frente era só mostrar a cara; foi o que elas fizeram e estão fazendo.
Não estou aqui para contar a história das "de Hollanda", mas sim estou para modestamente, escrever sobre o que elas fazem no palco. Na verdade, chega a ser complicado tentar analisar um trabalho tão elaborado. Não existe um único movimento feito no palco que seja por acaso. Tudo é minuciosamente ensaiado: um olhar, um sorriso, um gesto, uma piada, uma gargalhada. Até o que não estava combinado vira cena no show seguinte, tal a maneira com que elas se entregam no palco. Ali, na frente do público, elas não são mais: Karla, Ana, Eliza, Malu e Marcela. Elas são as “Mulheres de Hollanda”, na acepção da expressão. São: Ritas, Joanas, Helenas, Genis, Bárbaras, Cecílias, Angélicas, entre tantas outras ainda não cantadas por elas, mas citadas nos versos do seu supremo inspirador.
É engraçado, quando ao fim de cada show, percebemos as pessoas comentando sobre as músicas, os arranjos que mais impressionaram. Não se consegue chegar a um consenso, cada um sai com uma canção na ponta da língua. É gostoso ver a "guerra" de notas das diferentes canções sendo assobiadas ao final dos shows. Isso comprova a qualidade do espetáculo, onde do início ao fim, cinco mulheres levam o público ao delírio, não somente pela beleza de cada uma, mas pela qualidade que oferecem durante pouco mais de uma hora.
Como elas mesmas dizem: "Se você gosta de Música Brasileira - especificamente de Chico Buarque de Hollanda – e é um dos que até agora só 'ouviu falar' destas Mulheres, está mais do que na hora de 'ouvi-las cantar'!".
Visitem http://mulheresdehollanda.multiply.com e conheçam mais sobre esses passarinhos buarquianos.
Vejam alguns depoimentos sobre "Mulheres de Hollanda":
"Fiquei muito impressionado com a qualidade do show, coisa rara hoje em dia. Com os arranjos, com a eficiência das 'meninas' no canto e na encenação, com a iluminação, com o som, enfim, com o cuidado em todos os detalhes que um projeto desses merece. 'Mulheres de Hollanda', além de ser um espetáculo de rara beleza por si só, é ainda uma grande idéia! Parabéns meninas, por nos dar acesso a tanta qualidade num só espetáculo!". (Roberto Menescal - músico, compositor)
"Estas Mulheres de Hollanda aí não estão pra brincadeira. Com apuro e sensibilidade, chegam devagarinho e dominam a cena com técnica e emoção. E feminilidade. E beleza. Que sorte que tem esse tal de Chico, chamado Hollanda, de ser cantado por essas fantásticas Mulheres, cada uma com seu charme, seu jeito e seu coração. E que sorte temos nós, também, de podermos nos deixar levar, como as duas moças de 'Mar e Lua', pelo som dessas mulheres correnteza abaixo, boiando com algas, sentindo arrepios, marcados para sempre por sua sonoridade bela, intensa e feminina. Longa vida a elas, Mulheres de Hollanda e também de todos nós, encantados pelo seu som". (Juca Filho - músico, compositor)
"Estava eu lá, na platéia, curiosa sobre a estréia. A boa vontade era grande, achei que seria bom e tal, afinal, Chico é Chico. Mas acontece que eu achei que já tinha visto tudo sobre Chico. E grupo vocal também não é novidade, entre outros ótimos e com muito mais estrada. Isso tudo eu pensava antes. Quando elas começaram a cantar, não pensei mais nada. Tudo isso eu achava antes e, quando elas começaram a cantar, me perdi. Destaque especial para 'Mar e Lua', cujo arranjo aquático desencadeou um filme na minha cabeça e eu não sabia mais se estava vendo as moças no palco ou tendo um tipo de alucinação. Foi uma encantadora experiência de qualidade superior, vinda de repente e me pegando de surpresa. É muito difícil deixar uma marca quando a gente pisa no terreno do clássico. E elas conseguiram, tanto que estou aqui, tanto tempo depois, gostando de me lembrar disso". (Suely Mesquita - cantora, compositora, preparadora vocal )
sexta-feira, março 10, 2006
Ruy Faria no superlativo sempre!
Por 40 anos ele foi a marca registrada do MPB4. Com sua voz melodiosa, seu raro talento para dar formatos especiais aos shows do grupo - ele sozinho já era o show. Dono de um bom humor inigualável, Ruy Faria seguiu estrada com o MPB4 por todos estes anos, levando boa música e shows lindíssimos para todo o país. Até o dia em que por motivos já muito bem explicados em seu site oficial(http://www.ruyfaria.com) ele passou a seguir carreira solo.
Mas como não poderia deixar de ser, só pra chatear, sua carreira solo é em dupla, com Carlinhos Vergueiro. Os dois acabaram de lançar um CD maravilhoso, com músicas belíssimas, intitulado justamente, SÓ PRA CHATEAR. Mas o CD não chateia ninguem: ele nos encanta com um repertório super bem escolhido, com as vozes da dupla super harmoniosas, mostrando, ainda, o lado compositor dos dois numa música linda chamada AMOR DE CINEMA. Com que emoção ouço este CD a cada dia! Imagino a emoção de assistir este show ao vivo! Ver o Ruy cantando é, para mim, sua fã de décadas, sempre uma emoção renovada, já que o Ruy é ele mesmo, sempre um cantor renovado, mesmo quando canta músicas antigas, como é o caso do clássico de Silvio da Silva Jr, AMIGO É PRA ESSAS COISAS.
Ele é eclético! cantando boleros ele dá um show a parte!Falar sobre ele é sempre muito complicado, já que ele é fera: cantor, compositor, roteirista, diretor, produtor musical!Daí no meu modesto ponto de vista Ruy Faria é sinônimo de talento. Um talento que o Brasil precisa redescobrir, mostrar aos mais jovens. Daí faço um convite para que visitem tanto o site oficial dele como o www.ruyfaria.da.ru, onde poderão ouvir suas músicas, conhecer um pouco mais sobre este ícone incontestável da nossa MPB.
Por Milu Duarte
terça-feira, janeiro 24, 2006
Essas são as minhas menininhas, são as quatro baianinhas que eu, um dia, descobri: QUARTETO EM CY...
1964. Esse foi o ano em que a Música Popular Brasileira abriu alas para o furacão de vozes chamado Quarteto em Cy. Mas o comecinho de tudo foi em 1962, quando Cyva foi ao Rio de Janeiro fazer um curso de teatro com Adolfo Celli. Vinícius de Moraes, por intermédio de Carlos Coqueijo, conheceu Cyva e ficou encantado com a linda voz da baianinha – era dessa forma que ele a chamava. Anos depois, as irmãs de Cyva – Cybele, Cynara e Cylene - vieram definitivamente ao Rio e os laços de amizade que tinham nascido entre Vinícius e Cyva se ampliaram às demais baianinhas. O poetinha deu a elas toda a força e coragem que necessitavam e começou a mostrar a elas onde tudo acontecia: a noite carioca. Certo dia, as quatro irmãs em Cy foram levadas a uma festa, por Vinícius, na casa do arquiteto Maurício Roberto. Antes da festa, Vinícius foi logo avisando: "Levarei umas baianinhas para o jantar". Elas chegaram assustadas como quatro ginasianas. Sentaram-se juntas, de mãos dadas, quase não falavam. Algum tempo depois, já estavam menos tensas. E, quando chegava um convidado, como meninas bem amestradas, elas cantavam: “Bom dia, amigo. Que a paz esteja contigo”. Dessa forma foram conquistando a todos que conheciam, o que não poderia ser diferente! Nessa época, para se manterem, as meninas tinham outras atividades, além da música: Cyva era professora de Português; Cybele dava aulas no curso Normal; Cynara e Cylene eram secretárias. Os convites de Vinícius para festas e encontros musicais eram cada vez mais freqüentes - duas ou três noites por semana, o poeta batia à porta das meninas, sempre depois da meia-noite, e era recebido por solenes meninas de pijama, e as carregava para as festas. Com isso, começaram a conviver com Baden Powell, Edu Lobo e Francis Hime.
As irmãs em Cy ainda não tinham um nome para o grupo vocal e em reunião com Vinícius e Carlos Lyra decidiram por Quarteto em Cy. E ficou! O Cy, com o tempo, se tornou marca de qualidade, profissionalismo e boa música. Estrearam profissionalmente no Bottles’s Bar, em 30 de junho de 1964. As meninas começaram a fazer alguns trabalhos juntamente com Vinícius e Caymmi, como o show antológico na boite ZumZum, mas o futuro do Quarteto em Cy ainda era incerto, como desabafa Cyva em uma de suas cartas a Vinícius: "Achei comovente você ainda acreditar no Quarteto em Cy. Tenho-me esforçado por continuar acreditando, pois ele caminha a passos de tartaruga, o que nos impacienta, sabe? É como se estivesse condenado. Íamos fazer um show com Carlinhos Lyra no Teatro Santa Rosa, mas não deu certo. Depois, o Flávio Ramos começou a organizar um show conosco no Bon Gourmet, mas teve que fechá-lo. Resultado: vamos ficar frustradas com isso, que chamamos de "superazar". Agora terminamos por nos dar um prazo. Depois disso, Cybele voltará para a Bahia a fim de casar-se. Estou contando isso para você não alimentar ilusões a respeito do quarteto, ainda." Mas elas mal sabiam o que o futuro reservava para o ainda tímido Quarteto em Cy.
Serei forçada a resumir o que os anos reservaram às meninas, pois, do contrário, faltaria espaço para tanta história boa. Em entrevista com Cynara, ela resumiu bem os muitos capítulos dessa incrível saga em Cy: "Em 1966 Cylene saiu e foi morar em Araraquara, aí entrou a Regina no lugar dela. Em 1967, na volta dos Estados Unidos (ficamos 6 meses por lá), eu e a Cybele saímos porque não queríamos mais voltar para ficar lá. Aí entraram a Sonia e a Semíramis, e com esta formação foram para os Estados Unidos mas a Semíramis não quis ficar lá e deu no pé. Aí o Quarteto parou porque também a Sonia voltou. Enquanto isso, Cybele foi com o marido para os States e lá, refizeram o grupo com: Cyva, Cybele, Regina e Sandra, uma menina que já morava lá. Eu, aqui, fiquei sem a Cybele e fiz um LP solo, nessa época, que foi de 1969 a 1971. Em 1972 Cyva voltou dos States e resolvemos refazer o grupo aqui. Aí entrou novamente a Sonia e chamamos a Dorinha Tapajós, mais a Cyva e eu, claro. De 1972 a 1980 foi essa a formação. Em 80, a Dorinha adoeceu e saiu do grupo, entrando a Cybele (que havia voltado dos States). E é essa a formação até hoje: Cyva, Cybele, Cynara e Sonya. Gostou da história? é complicada de contar mas, se não fossem as várias formações, não teríamos o Quarteto até hoje. É mesmo uma saga. Mas com mulheres só pode ser mesmo assim. Mulher vem acompanhada sempre de marido, filhos, etc. E a coisa fica difícil de levar para sempre."
O que era uma incerteza para as meninas, tornou-se motivo de orgulho não só para o Brasil como para todo o mundo, pois o grupo é muito querido no Japão, EUA, Espanha, entre outros tantos países. São mais de quatro décadas de carreira, mais de cinqüenta discos – sem contar com as participações em trabalhos de outros artistas -, mais de quatrocentas músicas gravadas e esses números tendem a aumentar a cada dia, pois o grupo reserva muitas surpresas super especias como o novo CD- Sambas em Cy-, o segundo DVD, novo show e uma biografia que promete sair ainda esse ano.
Ufa! Nós é que precisamos ter pique para acompanhar essas incansáveis meninas. Quanto ao futuro do Quarteto em Cy, esse é certo e irresistível: sucesso, sucesso, sucesso e mais sucesso. Agora, creio que a melhor coisa que você deva fazer é escolher um lugar bem sossegado, livrar a mente de quaisquer pensamentos, colocar um CD do Quarteto para tocar e está feito! O final dessa história... Você já deve imaginar!!!
sábado, janeiro 21, 2006
Viva Sidney Miller!
Amigos! Peço desculpas e mais desculpas pela minha ausência, porém o tempo tem sido curto! Prometo que teremos novidades em fevereiro, mas por enquanto vou continuar como um simples escriba.
Venho usar esse espaço a mim cedido, para reverenciar um dos maiores nomes da Música Brasileira. Conhecido por poucos, com uma obra curta, uma morte prematura, mas uma genialidade única e que merece muito mais espaço e louvor por nós, amantes da MPB.
O nome dele é Sidney Álvaro Miller Filho, ou simplesmente Sidney Miller. Carioca, nascido em 18 de abril de 1945. Aprendeu a tocar violão sozinho, começou a compor aos 17 anos e despontou como compositor na década de 60. Teve seu trabalho registrado pela primeira vez com a gravação de "Queixa", samba feito em parceira com Zé Kéti e Paulo Tiago, em 1965. Sidney participou de muitos festivais, obtendo sucesso em praticamente todos e tornando-se assim uma estrela de primeira grandeza dos festivais de música brasileira, ao lado de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Geraldo Vandré e Paulinho da Viola.
Em 1966, ao escutar as músicas de Miller, Nara Leão se deslumbrou e gostou tanto das canções do novo compositor que não conseguiu escolher apenas uma para gravar, mas cinco. E gravou. Durante sua curta vida, Sidney Miller participou de composições para trilhas sonoras de filmes, músicas para peças de teatro, organizou espetáculos e produziu discos, como "Coisas deste mundo", de Nara Leão, em 1969.
As músicas de maior sucesso do compositor são: "Pede Passagem", "A estrada e o Violeiro", "É isso aí", "Maria Joana", "Alô Fevereiro", "Pois é, pra que?", "O Circo" entre outras. Estão na relação dos intérpretes de suas canções vários artistas como: Nara Leão, Quarteto em Cy, MPB-4, Luiz Eça, Dóris Monteiro, Paulinho da Viola, Luli e Lucina, Joyce, Ruy Faria, Cynara e Cybele, entre outros grandes nomes da Música Brasileira.
Miller era grande amigo do então casal Cynara (Quarteto em Cy) e Ruy Faria (MPB-4), juntos compuseram a valsa "Oração do Astronauta". Ruy fala sobre o amigo: "Ele era uma pessoa admirável, dócil, um talento incomensurável e muito sensível. Atravessamos juntos memoráveis e divertidos momentos. Não sou muito chegado a este tipo de cobrança, mas creio que o nome e a genialidade do Sidney deveriam ser muito mais reverenciados".– afirma.
Sidney Miller trabalhava na Funarte (Fundação Nacional de Arte) e faleceu precocemente aos 35 anos, no dia 16 de julho de 1980. Após sua morte, a sala em que trabalhava na Funarte, no Rio de Janeiro, ganhou seu nome.
Eis aqui um artista que foi enquanto vivo um trabalhador incansável, engrandecendo decididamente a Música Brasileira, a verdadeira.
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